Esta exclamação bem que poderia estar vindo de
alguma espécie extraterrestre superinteligente, observando de longe os
terráqueos consumindo todos os seus recursos e caminhando para sua extinção.
Mas ela está partindo dos próprios seres humanos, alguns deles economistas e
líderes bem conscientes do estado do mundo.
Você já reparou que o senso de urgência nas vidas das
pessoas aumentou vertiginosamente nos últimos anos? Tudo é pra ontem, tudo é de
última hora, tudo é urgente e importantíssimo. Qualquer coisa pode acontecer
desde que sua fonte de renda não seja prejudicada. A venda máxima de produtos e
serviços é o objetivo absoluto, seja qual for o meio utilizado. Essa busca
frenética por produção e resultado pode impulsionar um crescimento quantitativo
da economia, mas de longe isso não se reflete em melhoria na qualidade de vida
ou felicidade das pessoas. O transporte continua ruim, a saúde nem se fala, só
ricos tem educação de qualidade, poucas pessoas tem tempo para diversão, todos
estão expostos a falta de segurança e todos sofrem ou sofrerão com os danos da
poluição. Fato.
Por que os países continuam perseguindo tanto o
crescimento do PIB (indicador quantitativo) e não o de desenvolvimento humano?
Por que as empresas buscam crescimento sobre crescimento, como se pudessem
aumentar suas vendas infinitamente? Por que as pessoas aceitam esse sistema?
Por que perseguem tanto a riqueza monetária se nem conseguem usufruir do que
acumulam?
Alguns economistas estão faz tempo alertando que já
ultrapassamos o limite físico e natural do crescimento. Que não existe ganho
econômico sem alguma perda ao meio ambiente. Que a conta financeira do
mundo, cheia de externalidades, já é tão grande que teremos que rever todo o
sistema de financiamento do planeta para ajudar alguns países a arcarem com
custos provenientes de crises ambientais. Isto se, daqui ha algumas décadas não
cairmos em guerras generalizadas entre nações em busca de recursos e espaço.
Pois bem: se crescimento não significa prosperidade no
sentido de qualidade de vida, estes economistas já começam a propor a teoria do
Estado Estacionário na economia. Isto significa que países, empresas e pessoas
podem perseguir um crescimento econômico (e ter apoio para isso) somente até
atingirem níveis satisfatórios de desenvolvimento humano. Uma vez dispondo dos
recursos para satisfazer as necessidades básicas de uma população, estes países
estacionam suas economias para dar espaço e apoio aos mais necessitados, até
que tenhamos um mundo mais equilibrado e harmônico.
Uma pessoa para ser feliz precisa viver em tempos de paz
(sem guerras), ter acesso a moradia, ter educação, ter saúde e ter liberdade
para se locomover e ter tempo para vida social. Inúmeras pesquisas e estudos já
provaram que estes são os quesitos mais importantes para que o planeta viva em
um equilíbrio mais sustentável. E muitas destas coisas não tem preço
estipulado, ou seja, são externalidades da economia, termo citado
anteriormente.
Onde foi então que erramos, criando uma economia baseada
em ganhos financeiros através do consumo e todos os aspectos negativos que o
acompanham? Na deturpação tal de valores que faz altos executivos pagarem fortunas
para ouvir teóricos como Phillip Kotler, Porter e outros figurões defenderem o
capitalismo posicionando a crise ambiental como oportunidades de mercado para
mais ganhos financeiros ainda?
Bom, mas antes que este texto se transforme em um muro de
lamentações ou críticas ao capitalismo aberto, vamos a algumas ideias que podem
reverter esse quadro deixando os extraterrestres-amigos mais tranquilos quanto
ao futuro dos humanos na terra:
(1) Externalidades:
considerar no preço das coisas o valor ambiental para recuperação das áreas
degradadas ou da remediação de problemas colaterais (aquecimento global,
exaustão de recursos, problemas sociais e etc). Já existem cálculos deste tipo
e as coisas ficarão tão caras que teremos que rever nossos níveis de produção e
de consumo;
(2) Estacionar economias: não precisamos crescer infinitamente, mas sim buscar equilíbrio e
qualidade de vida. Atingindo estes níveis paramos de crescer e buscamos a
manutenção;
(3) Desacelerar: não precisamos trabalhar 5 dias por semana e descansar 2. Não precisamos
trabalhar o dia inteiro. Precisamos diminuir o tempo de trabalho e aumentar o
tempo de diversão, principalmente, a diversão gratuita, sem consumo de
recursos;
(4) Regulamentar propaganda: diminuir drasticamente o incentivo ao consumo,
principalmente de produtos supérfluos. Mídia que deseduca, confundindo as
pessoas em detrimento da persuasão à compra, não deve ser livre e sim pagar uma
compensação por manipulação para um fundo destinado a educação;
(5) Desonerar iniciativas de desenvolvimento sustentável: novos negócios e produtos prometem diminuir muito
impactos ambientais. Incentivar estas práticas através de menos impostos. A
abordagem para estes novos negócios é para satisfazer necessidades e não para o
ganho financeiro a curto prazo (novos meios de locomoção, por exemplo, ao invés
de carros mais modernos);
(6) Reverter prioridade nas cidades: rever a administração das cidades para terem espaços
públicos mais voltados a transporte coletivo e convivência dos habitantes. As
cidades são para as pessoas e não para os carros.
A Promenade, de Paris, transformou um viaduto (assim como
o elevado de SP) em uma longa passarela verde para pedestres. Menos lugar para
os carros, mais para as pessoas.
Algumas destas e muitas outras ideias foram publicadas
recentemente na revista Superinteressante, edição especial, que aliás,
incentivou o texto acima. Vale muito a leitura e a reflexão!
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