O cenário nem sempre é agradável. Apesar da beleza natural do Rio Cubatão, seo José Paulino Neto, de 63 anos, faz o trabalho pesado nele. Sozinho, rema e arrasta para o barquinho pneus, garrafas e todo e qualquer tipo de lixo que estraga seu ambiente de trabalho. Faz isso porque, para ele, o ‘salário’ compensa: apesar de não ganhar nem um real, torna o rio mais bonito. E, sozinho, sabe que pequenas boas ações ajudam a mudar o mundo.
Na verdade, a tarefa do rio é até um sonho de vida. Ele é catador, desses de rua, que encontram no que os outros jogam fora tudo de que precisa para viver. Aprendeu na vida a reciclar e valorizar o que ninguém mais quer. E de lata em lata, papelão e plástico, tira a comida do dia a dia da família: tem dois rapazes e uma moça para sustentar.
Ele veio de Pernambuco com a família faz 12 anos. Só não é anjo do rio há mais tempo, porque, com o que ganha como catador, demorou anos para juntar dinheiro e comprar o primeiro barquinho. Este é o segundo, pois o anterior não resistiu à maresia e estragou-se.
“Eu limpo aqui por prazer e para ver o rio limpo, porque o pessoal suja muito. Além de poluir o meio ambiente, me incomodo pra caramba”, conta ele, triste.
Sua renda mensal é de R$ 200,00 quando consegue trabalhar muito. “Eu trabalho demais: domingo, feriado, ano novo e ano velho. Tomo remédio de nervoso, mas continuo. Minha casa é dentro do rio. Estou dentro do rio agora. Eu cuido: é meu, é nosso”, explica ele, lembrando que foi difícil começar. “Minha família até passou necessidade para eu juntar dinheiro, foi um sufoco”, explica, provando que não é preciso ser empresário para iniciar boas ações.
"Sou só eu aqui. Se peço uma força, falam que sou besta de fazer isso de graça. Mas é como se diz: tem pouca gente que quer as coisas certas, né?", José Paulino Neto.
Em cada saída nas remadas, ele tira de 100 a 200 quilos de lixo. Arranja briga e ainda é visto como bobo por alguns. “O pessoal fala mesmo, acham que sou besta, otário. Eu tiro, eles jogam lixo novamente. E não tem problema, não”. Crença nas pessoas
Perguntado se ainda acredita nas pessoas, ele é rápido: “Lógico e, mesmo assim, não espero ajuda. É só eu mesmo aqui. Se peço uma força, falam que sou besta de fazer isso de graça. Mas é como se diz: tem pouca gente que quer as coisas certas, né? Fazer o quê? Ainda acredito nas pessoas e no amanhã”, diz, convicto, contando que seu sonho é para si, mas para todos: “com um barco maior e a motor, poderia ajudar mais ainda o meio ambiente”.
Esse barco, ele espera conseguir depois do vídeo publicado na internet, feito por Sileno Alexandre e Gabriel Alves. “Fico feliz. As pessoas que assistiram falam que estou de parabéns de fazer isso. Só sonho em um barco novo para continuar”.
Fonte: http://www.atribuna.com.br/